Processamento Auditivo Central

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Processamento Auditivo Central



A audição não envolve apenas a anatomia e fisiologia do ouvido, envolve também a participação de redes neurológicas complexas que têm funções diferenciadas no processamento dos sons ao longo das vias que conduzem o sinal sonoro ao Sistema Nervoso Central (SNC). A estes processos realizados cerebralmente, desde a entrada da informação auditiva até à chegada da mesma ao SNC para ser descodificada, denomina-se Processamento Auditivo Central. Ao longo deste caminho, diversas “paragens” são realizadas, ocorrendo em cada uma delas processos diferentes, responsáveis pelo tratamento do sinal auditivo sobre diferentes aspetos (duração, frequência, intensidade, reconhecimento, memória, discriminação, integração ou separação binaural, etc.)



A maioria das avaliações auditivas realizadas (audiograma) tem como objetivo aferir as condições anatomofisiológicas do aparelho auditivo, assim como a chegada ou não do sinal acústico ao SNC. No entanto, normalmente, estes exames não avaliam os processos cognitivos inerentes à análise do sinal acústico de forma a ser posteriormente descodificado. Assim, a avaliação auditiva anatómica e fisiológica tradicional por si só não traduz o estado das competências ao nível do processamento auditivo central até porque este diagnóstico só será validado com resultados dos exames audiológicos dentro da normalidade.



As consequências das dificuldades de processamento auditivo central podem ser muito variadas: alterações de linguagem oral e/ou escrita, dificuldades em manter em atenção para a escuta, entre outras. Desta forma, as perturbações do processamento auditivo podem coexistir com outras alterações tais como dislexia, hiperatividade, perturbações fonológicas (com repercurssão na fala), défice de consciência fonológica, disfonias (alterações de voz), entre outras.

As crianças com este tipo de alteração podem ter dificuldades em compreender o que lhes é dito e/ou ter dificuldades em manter a atenção quando se encontram em ambientes ruidosos, não conseguindo acompanhar a conversação. É muito frequente estas crianças pedirem para que lhes seja repetida a informação utilizando expressões como “hã?”, “mm?”. “diz?”... Podem também apresentar dificuldades na percepção dos sons da fala confundindo sons semelhantes ou até padrões melódicos distintos (prosódia). Uma criança com uma alteração do processamento auditivo, caracterizada por dificuldades em percepcionar padrões de duração, poderá não conseguir processar aspectos prosódicos da fala tais como o acento de palavra ou a entoação da frase (exclamação, interrogação, etc.).



Desta forma, ao serem observadas alterações de linguagem oral e/ou escrita e alterações fonológicas, entre outras, cabe ao Terapeuta da Fala a realização não só da avaliação da linguagem a fim de caracterizar o perfil linguístico da criança, como também realizar um despite de possíveis alterações do processamento auditivo, a fim de averiguar a necessidade de uma avaliação mais rigorosa nesta área. Caso se verifiquem alterações de processamento auditivo, a intervenção terapêutica incidirá não só no desempenho linguístico, como também no desenvolvimento das competências auditivas através do treino auditivo dirigido às competências alteradas.



Dina Caetano Alves e Tânia Reis